Movimento de Revitalização da Música de Brasília

Movimento de Revitalização da Música de Brasília

sábado, 6 de agosto de 2011

Brasília, o caminho do meio - Música não é barulho e o silêncio também é saudável.

Por Sérgio Lorran Figueiredo

Não é novidade para ninguém que Brasília, a cidade de dimensões pequenas, virou cidade grande em velocidade recorde. Também já foi muito falado que temos todos os problemas de grandes e saturadas metrópoles, uma vez que a capital do humanista JK foi projetada para uma população menor do que hoje aqui se encontra.

Como qualquer remédio que se toma visando resolver uma doença, quando se exagera na dose, é inevitável que apareçam os efeitos colaterais e Brasília começou a vivê-los com a explosão demográfica. Um transporte público precário incentivando a exagerada venda de automóveis, a construção desordenada de moradias e a voraz especulação imobiliária, todo esse cenário financiado por uma das mais altas concentrações de renda do país.

Nossos efeitos colaterais são caso de UTI. Altíssimos níveis de doenças psicológicas como a depressão, stresses e a síndrome de pânico bem como um dos mais altos custos de vida e poucas opções de lazer e acesso a cultura completam o prontuário médico da Capital que caminha inevitavelmente para a intolerância que é, em diversos níveis, patológica.

Observando um outro cenário de contraponto vemos que motivo de orgulho Brasília tem. Daqui saíram músicos de renome nacional, que foram feitos nas noites, nos bares da Capital. Assistia-se ali na esquina, naquele bar da quadra, aqueles músicos maravilhosos que marcaram grandemente a história da música nacional e influenciaram gerações por todo país. Respiramos aqui ares divinais, algo inexplicável acontecendo que nunca deixa de produzir músicos de todos os estilos, do samba ao rock, inclusive uma Mpb Brasiliense de altíssima qualidade com toda uma incrível coloração de cantores, instrumentistas virtuoses e compositores inspirados.

Porém, há algum tempo estamos vendo a música sendo chamada de barulho e responsabilizada pelo ataque direto ao silêncio. Bares, restaurantes e casas de cultura vêm sendo fechadas pelo IBRAM (Instituto Brasília Ambiental) mobilizados pelos moradores. Inicia-se aí o desmantelo de toda uma cadeia de Economia de Cultura. Por quase duas décadas assistimos dezenas de bares fechando as portas, visto que, a música como atração maior da cena empresarial noturna, movimentava o lazer e a cultura das noites da cidade. Não só os músicos perderam o emprego, mas com eles uma legião profissionais pais de família: garçons, cozinheiros, auxiliares de serviços gerais ente outros. Se colocar no papel todos os postos de trabalho perdidos entenderemos os altos índices de desemprego em vários momentos da história candanga e o grande potencial da economia de cultura não mais explorado.

Outro dia recebi a notícia que o IBRAM havia fechado o Armazém do Juca, um conhecido bar de Águas Claras. Sabedor que ali não havia música ao vivo, perguntei o porquê e fui informado que um condomínio entrou com reclamação pelo ruído produzido pelos carros no estacionamento do estabelecimento. Pasmem! Lembrei-me que morei na 312 norte, num bloco na entrada da quadra e que eu acordava várias vezes a noite com as freadas no quebra molas e o transitar de carros e motos. Mas por incrível que pareça, quando o T-bone fechava a rua para executar um de seus dois shows musicais anuais, eu dormia como um anjo, pois cessava-se o transito na área.  Será que o IBRAM poderia ter fechado a rua toda noite caso eu solicitasse? Sei que não. Seria um grande exagero! Percebi que a intolerância está também cegando as autoridades que já não buscam soluções que beneficiem a sociedade amplamente, e em detrimento disso resolvem a muque cada situação local sem se dar conta do prejuízo paulatino ao direito de lazer e cultura tão fundamental

Mais e o sono, direito sagrado ao descanso? Sim, o silêncio é saudável, mas o lazer, a cultura da música, também sara a alma depressiva, eleva os níveis de bem estar, incentiva o intelecto, estimula a inteligência emocional, transporta nossa mente para outros sonhos amaciando a intolerância e aumentando a gentileza entre as pessoas.

Parei para pensar que está na hora das soluções inteligentes. Música não é barulho, como dizem os membros do Movimento de Revitalização da Música de Brasília, buscadores de soluções do qual faço parte. Porém é sabido que o seu fazer pode incomodar a aqueles que não desejam ouvi-la.

Há de se observar a enorme perda social que a falta de uma política focada está causando, como por exemplo, o incentivo financeiro para isolamento acústico dos estabelecimentos que promovem a cultura. Falta também lazer para curar as doenças da alma, faltam oportunidades de emprego, trabalho e condições de descanso lícito do cidadão que precisa do merecido sono dos Deuses. Falta o caminho do meio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário