Movimento de Revitalização da Música de Brasília

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O STF É A MAIOR INSTITUIÇÃO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL DO PLANETA.

Por  Sérgio Lorran Figueiredo

            O ano: 2011. O cenário: Brasil, o país do futuro e da oportunidade.
Amanhecemos todos, milhões de brasileiros, com curriculo maior. Novas carreiras e possibilidades de emprego e trabalho. Claro, tudo depende da habilidade individual, mas em se tratando da contextualização, essa habilidade individual, está longe de ser testada nos bancos das instituições de ensino e preparação técnica, muito menos de horas de estudo acadêmico ou autodidata. Aliás, isso só por si, já seria aceitável, caso não fosse ideal, uma vez que o saber notório do autodidata tem valor inestimável. Mas não é nada disso! Estamos falando de capacitação profissional curricular da noite para o dia.
Essa capacitação profissional irrestrita, oferecida de bandeja a todos os cidadãos brasileiros, se deu, numa decisão pra lá de polêmica, pelo STF (Superior Tribunal Federal). O STF surpreendeu o Brasil, decidindo pela desregulamentação da profissão de jornalista. Ou seja, já não é necessário cumprir o currículo acadêmico para ser considerado jornalista. É isso mesmo! Com a decisão, qualquer pessoa que escreva sobre matéria de opinião, faça editoriais e toda sorte de informação escrita, pode se autodenominar jornalista. Por exemplo, um comentarista esportivo agora é jornalista esportivo. Programas de humor que façam entrevistas jocosas com políticos, agora são jornalistas políticos. Matéria de receita de bolo, agora é assinada por jornalista gastronômico. Toda sorte de blogueiros de plantão, agora pode, sem medo de pecado, ser chamado de jornalista. Para tanto, o único pré-requisito é o saber ler e escrever, não importando sequer, ter ou não o certificado de conclusão do primeiro grau, quiçá o curso superior de jornalismo.
Numa outra decisão mais recente e não menos polêmica, o STF novamente decide por desregulamentar uma outra profissão: músico. Nesse caso nenhum pré-requisito existe, uma vez que, cantar naquele conhecido Karaokê já é prerrogativa para se autodenominar Cantor, e mesmo bater uma caixinha de fósforo, ou num copo com uma colher naquela roda de amigos do barzinho, já faz deste um Percussionista.  Não é preciso muito para ser considerado um músico no Brasil de hoje. Para uma profissão tão necessária e que cobra tanta dedicação de instrumentistas, maestros, arranjadores, compositores, cantores, regentes e de autodidatas, que no desenvolvimento de sua arte criam referência aclamada mundialmente e marcante na história do mundo, essa decisão choca! As centenas de milhares de horas e horas de dedicado estudo, de entendimento, aprimoramento e domínio de ritmos diversos, harmonias complexas e dissonantes, um universo de melodias e repertórios a fim de finalmente ter capacidade de se apresentar com êxito, não são, aos olhos do Supremo, passíveis de se chamar profissão.
Se antes era complicado para um adolescente informar aos pais de sua decisão de se formar músico, já que a música, apesar de ser apreciada por todos, é sempre considerada por pais preocupados com futuro de seus filhos, como hobby. Agora será o argumento muito bem embasado a ser dito pelos pais dessa nova geração: “Filho, isso não é profissão! Nem o Supremo Tribunal Federal reconhece a música como profissão! Toque e cante, mas faça um curso sério!”. Conseguem imaginar tal diálogo? Até eu, músico há 31 anos, cantor, compositor, instrumentista, arranjador, regente... até eu não pensaria duas vezes para ingressar em outra profissão “reconhecida”. Preconceito? Não! Apenas a constatação de que essa capacitação já vem inclusa no currículo do brasileiro ao nascer, não sendo necessário tanto estudo para a titulação de músico. Então, porque não me dedicar a mais capacitações? Principalmente as regulamentadas?
Tenho muito amigos jornalista, apaixonados pela música. Muitos tocam violão, muitos deles cantam, muitos deles trabalham em editoriais sobre música. Entre mortos e feridos, aos jornalistas, após a perda do status profissional e todo esforço de uma vida, resta um novo alento: São também músicos profissionais.
A nós, músicos, no calor da indignação da decisão do STF, ao colocar o “bloco na rua”, e bradar aos 4 cantos do mundo, nossa insatisfação, escrevendo milhares de linhas para sensibilizar a sociedade do retrocesso de nossa profissão. Exatamente aí, acontece outro novo fenômeno: Tornamos-nos jornalistas.
Mas não só nós aumentamos nossa capacitação profissional da noite para o dia. O Supremo Tribunal Federal torna-se a maior instituição de capacitação profissional do planeta. O brasileiro já nasce jornalista e músico. Claro! Resguardados os requisitos de investiduras nos cargos: Ler, escrever e sacudir uma caixinha de fósforos no ritmo.
Assim assino essa matéria de opinião, eu, Sérgio Lorran Figueiredo, cantor, compositor, arranjador, instrumentista, professor de violão, regente e jornalista - direto da redação de minha casa.

Um comentário:

  1. O STF iniciou o processo de retomada da dignidade do músico, considerado o tripé arte-talento-mercado. Música é arte, é liberdade de expressão. Viva o STF! Viva a música enquanto profissão-arte! Não fale por todos os músicos, uma vez que você não os representa! Sua opinião é digna de respeito, mas de lamento também, haja vista seu engano reiterado em afirmar que o STF desregulamentou a profissão de músico. Ao contrário, agora terá a regulamentação devida, que a OMB sempre desprezou...

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