Movimento de Revitalização da Música de Brasília

Movimento de Revitalização da Música de Brasília

sábado, 6 de agosto de 2011

Paulo Sousa (Pecê) se posiciona sobre o Movimento de Revitalização da Música de Brasília e fala da sua música



Paulo Sousa (Pecê)
Compositor, intérprete, violonista e professor de Língua Portuguesa e Literatura, Pecê Sousa transita nos mais diversos gêneros de MPB. Atua em Brasília desde 1981 (com passagem pela Europa entre 1989 e 1991). Seu repertório é vasto e eclético, formado essencialmente por peças de grande qualidade, músicas de mestres de nosso cancioneiro. Publicou em 2002 o CD autoral independente Ecos do Cerrado e roteirizou e dirige o espetáculo cênico-musical Festivais: Cantos e Contos, em cartaz há cinco anos nos teatros do Distrito Federal.

Paulo, porque você entrou para o Grupo de Revitalização da Música de Brasília?

Paulo Sousa – Considero importantíssimo que os músicos se organizem como categoria profissional, e as redes sociais se constituem em ferramenta estratégica para atingir esse objetivo.

Quais as críticas que faz ao grupo em termos de atuação?

Paulo Sousa – A pouca objetividade e a dispersão de foco de muitos dos participantes do grupo, somados ao excesso de informações postadas, dificultam em larga medida a coesão do grupo em um direcionamento comum rumo à solução dos problemas que se debatem. Mas isso é comum em iniciativas democráticas.

Quais as sugestões que tens para dar ao grupo?

Paulo Sousa – Há que se colocarem direcionamentos criativos, pragmáticos, plausíveis e exeqüíveis para serem empreendidos pelo grupo, a fim de que sejam sanados os problemas da classe.

Qual sua opinião sobre o recém julgamento do STF sobre a Ordem dos Músicos, Seção SC?

Paulo Sousa – Acredito que os músicos precisam centralizar a representação da categoria em apenas uma instituição de classe nacional, com representações estaduais. Se sindicato, se OMB, se cooperativa, se associação ou outra personalidade jurídica qualquer, não tenho opinião formada. O importante é a integridade moral das pessoas que compusessem essa entidade e a competência e a qualidade da gestão a ser desenvolvida em prol da categoria. Entretanto, uma polícia, uma instituição fiscalizadora da reserva de mercado, como tem sido de uma maneira geral a OMB, jamais teria sentido, muito menos neste momento histórico. Categorizar qualquer tipo de arte vinculando-a intrinsecamente a status acadêmico é um equívoco, uma postura anacrônica e uma atitude discriminatória contra a arte popular. E falo da perspectiva de quem se submeteu ao sistema e porta a carteira profissional da OMB, ressalte-se.

E sua música hoje, quais os projetos, o que andas fazendo na área?

Paulo Sousa – Compor é, para mim, quase como uma necessidade fisiológica. Estou sempre criando alguma coisa. Tenho desenvolvidos projetos também relacionando música popular à educação. De meu trabalho autoral, entretanto, tenho editado e publicado pouca coisa. Considero adversas as condições para tanto e restritas ainda as possibilidades de produção e divulgação, apesar das novas tecnologias e do ambiente virtual que se apresenta como alternativa para isso.

E a classe musical é unida, há como se trabalhar um movimento conjunto dos músicos?

Paulo Sousa –Aqui no ambiente brasiliense, a cordialidade, a parceria e a solidariedade sempre foram características. Do ponto de vista político, entretanto, os músicos somos por demais ingênuos, desarticulados e dispersos. Mas as crises, como essa que se apresenta, têm a propriedade de amadurecer as pessoas, e esse movimento é uma prova disso, um passo importante rumo à conscientização dos músicos de que são partes de um segmento profissional digno de todo o respeito, bem como da organização da classe como categoria.

E sobre o fechamento de bares em Brasília pelo Ibram enfocando a questão do "barulho"?

Paulo Sousa – Assisti recentemente a um documentário sobre Lúcio Costa. Em um trecho ele fala sobre a função dos pilotis nos prédios de Brasília. O urbanista declara que, além de manter a amplitude visual, ainda que em perímetro urbano, ele pretendia que o som se propagasse, “que os filhos estivessem sempre ao alcance do chamado de seus pais”. Ao que parece, ele teve êxito.  Porém isso, combinado à proximidade geográfica entre as áreas comercial e residencial, gerou um problema de complexa resolução. Contudo, convivemos na mesma cidade, somos todos cidadãos no mesmo espaço geográfico. Portanto, essa “caça às bruxas” que vem sendo empreendida pelos órgãos fiscalizadores, desencadeada pelo clamor de uma meia dúzia de incomodados, é um completo absurdo. Ora, o que está se fazendo, de fato, é impedir o trabalho de centenas de profissionais, de diversas áreas, envolvidos na diversificada cadeia do mercado de entretenimento. É um desmando oficial, uma arbitrariedade. A nós, músicos, é imposto o direito a não ter direitos básicos. Um total disparate! Respeito o direito ao sossego, entretanto, quem quiser o cricrilar dos grilos como fundo musical para suas noites insones, que vá habitar o ambiente rural. Vivemos em um ambiente urbano. As motocicletas e coletivos, sim, esses emitem ruídos, por vezes ensurdecedores. Tratar a música brasileira, uma das manifestações de arte popular mais valorizadas mundo afora, como ruído, é demonstrar completa ignorância e agir com total intransigência.

Alguma coisa ficou pendente que gostarias de colocar nesta entrevista?

Paulo Sousa – Certa feita, em 1987, fui preso, por tocar em um bar na Asa Norte. Tratava-se de um trabalho formal, com contrato firmado e carteira assinada. A acusação: perturbação da ordem pública. Era em uma entrequadra onde funcionavam vários bares “da moda”, lugares freqüentados por multidões de clientes. O ambiente era inquestionavelmente ruidoso, o que me atrapalhava deveras no trabalho de interpretar, ao violão e voz, das peças do Chico, do Cetano, do Elomar, do Tom, do Dorival, do Milton, canções cuja execução exige concentração, sensibilidade e destreza,  em função da beleza estética e do valor cultural da obra de compositores desse naipe. Tratou-se de uma operação da Polícia Civil, envolvendo três delegados, muitos agentes e viaturas. Havia várias centenas de pessoas na comercial, mas apenas eu e um outro músico fomos alvos da ação. Na Delegacia (Centro de Policia Especializada), para onde fui “recolhido”, fiquei em uma situação peculiar: eu revezava no palco com outro músico e, como no momento da abordagem pelo aparato policial era o outro que estava no palco, não recairia flagrante sobre a minha pessoa.  Portanto, fui levado por eles, mas não estava detido. Tive então a oportunidade de conversar com o perito que fez a medição do nível de ruído na operação e ele, informalmente, confessou-me  o óbvio: que não dá para afirmar categoricamente que o nível de ruído acusado na medição advém exclusivamente das caixas de som. Disse-me ainda que o alvo deles era o palco porque, sem música, a multidão tenderia à dispersão. Na ocasião, falei também com a Delegada de Costumes, uma jovem senhora recém-chegada de Fortaleza. Expliquei-lhe que, como Delegada de Costumes, ela deveria rever sua posição, porque, em Brasília, como em todas as cidades saudáveis do planeta, as pessoas têm o costume de sair à noite para se divertir. Ou seja, o problema é estrutural, seus sintomas são antigos. Há que se chegar a um meio termo, com bom senso, sensatez e civilidade. Mas, para isso, os profissionais da noite (músicos,  donos de casas noturnas, garçons, copeiros etc.) terão que travar uma queda de braços com aqueles que a seus trabalhos se opõem. E, para tanto, precisarão unir forças.

Assessoria de Imprensa
Movimento de Revitalização da Música de Brasília

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